quinta-feira, 31 de março de 2011

Um novo olhar sobre as comunidades

Viver em sociedade é uma necessidade básica do sujeito e é nas relações sociais que ele adquire novos saberes e constrói sua identidade e cultura. As primeiras relações do sujeito que vive em sociedade acontecem dentro das comunidades. São nesses espaços que as principais idéias de convívio e interação são apresentadas; são nesses espaços que as normas, regras e leis são elaboradas para serem cumpridas; são nesses espaços que o equilíbrio para a vida em sociedade é construída.
 A primeira comunidade que o sujeito tem contato é o seu lar familiar, e é nesse espaço que surgem as proteções, o convívio natural e as primeiras regras e rotinas. Com a idéia interiorizada da importância de se viver em comunidade, os sujeitos vão ampliando seu rol de contatos e então participando de novas comunidades; agora criadas na escola, no bairro, na faculdade, no trabalho e em tempos de cibercultura, no espaço virtual. Mesmo selecionando suas comunidades de acordo com as afinidades, pertencimento, laços afetivos e sentimentos, o sujeito sabe da importância dos cumprimentos das normas e regras para que haja um convívio coletivo de qualidade, afinal são as relações entre os sujeitos que permite a vida em comunidade e numa visão mais ampla, a vida em sociedade.
Participar de uma comunidade é permitir ao sujeito que ele determine que grupo ele quer estar inserido. Não que seja necessário excluir um outro grupo, mas a liberdade de escolher qual meio o sujeito quer pertencer, é uma das características de viver em comunidade, uma vez que estar em comunidade é sentir-se seguro, pois são nesses espaços que os sujeitos encontrarão outros que pensam e agem semelhantes a eles, o que é uma grande vantagem para conviver nesse mundo imprevisível e de constantes mudanças.
Com os avanços das tecnologias, as comunidades deixaram de ter endereço fixo e ultrapassaram os limites de territorialidade.  Com o ciberespaço criam-se diferentes formas de comunicações e interações que promovem novas formas de sociabilidade. São as comunidades virtuais, no qual Rheingold (2003) conceitua como:
“[...] agregados sociais que surgem da internet quando uma quantidade de gente leva adiante essas discussões públicas durante um determinado tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações pessoais no ciberespaço.” (Rheingold, 2003: 20 Apud FONSECA e COUTO, 2005, p. 51)


Tão importante quanto as comunidades presenciais, as comunidade virtuais possuem algumas vantagens nas relações de tempo e espaço e nas interações, pois virtualmente as interações e comunicações são ilimitadas. O tempo já não é cronometrado, é instantâneo; o espaço não é mais delimitado, é desmaterializado; predomina o aqui e agora, possibilitando que mesmo à distância, as interações e comunicações ocorram de maneira imediata.
Nas comunidades virtuais os combinados e os cumprimentos das regras e das normas também são imprescindíveis para que a convivência ocorra em harmonia. Nos dias atuais é comum a participação nas comunidades virtuais, pois com as facilidades de interagir por meio das tecnologias móveis e sem que o contato seja face a face, os sujeitos sentem–se livres em expressar seus desejos, medos, alegrias e inseguranças. São as comunidades virtuais possibilitando que o sujeito expresse a sua identidade.
As comunidades virtuais também são criadas nas redes sociais e são nessas redes que muitas idéias são divulgadas, muitas identidades valorizadas e muitos perfis culturais formados. É através dos posts que os sujeitos se apresentam para sociedade e é a partir dessas apresentações que as comunidades vão sendo criadas, através de sujeitos com interesses, valores, desejos e sentimentos em comum.
“Os espaços virtuais potencializam as comunidades virtuais no ciberespaço pela união de cidadãos conectados, agrupados virtualmente em torno de interesses específicos. Nesses espaços, definem regras, valores, limites, uso e costumes, os sentimentos e as restrições de acolhimento e pertencimento ao grupo. Isso viabiliza uma identidade cultural e social dos participantes, que flui do desejo de se estar vinculado a um determinado grupo, o qual terá a sua existência enquanto houver interesses dos participantes em usufruir desse ambiente.” (Fonseca e Couto, 2005, p.58 – 59)

Nessa perspectiva as comunidades virtuais vão proliferando nas redes sociais e em tempos de mobilidade, estar “presente” constantemente nas redes sociais tornou-se uma realidade. A mobilidade ampliou a rede de contatos existentes nessas comunidades e potencializou as relações virtuais.  Hoje os sujeitos que frequentam essas comunidades e utilizam as tecnologias móveis buscam mais do estar em rede. Já é comum encontrar comunidades que determinam movimentos sociais, realizam grupos de estudos, organizam eventos e encontros, criam discussões pertinentes com seus interesses, realizam negócios, etc. Todas essas ações são desenvolvidas e difundidas em questões de segundos, pois seus integrantes convivem com seus artefatos móveis conectados 24 horas por dia. Dessa maneira, as comunidades virtuais vão ganhando visibilidade e, consequentemente, mais seguidores, mais contatos e mais encontros virtuais e presenciais.
“A dinâmica das comunidades virtuais nos conduz a compreender o homem no seu desenvolvimento e processo de aprendizagem, na sua interação e comunicação humana, o que o permite apropriar-se de novas realidades reais e virtuais, vindo a transformar seu meio. Relações antes não estabelecidas agora são viáveis, porque as pessoas interagem, tecendo uma complexa rede de possibilidades.” (Fonseca e Couto, 2005, p.59)

Enfim, nas comunidades, sejam virtuais ou não, as relações, as interações, as afetividades são reais. Estar em comunidade é um dos princípios para viver em sociedade e para promover a interação. É a união do real e do virtual ampliando e promovendo qualidade de vida dos sujeitos na sociedade.


FONSECA, Daisy e COUTO, Edvaldo. Comunidades virtuais: herança cultural e tendência contemporânea. In: PRETTO, Nelson. Tecnologia e novas Educações. Coleção educação, comunicação e tecnologias. Volume I. Salvador: Edufba, 2005


terça-feira, 29 de março de 2011

Comunidades virtuais

Com o advento da internet as barreiras do tempo e espaço foram derrubadas potencializando novas formas de comunicação e interação, interligando as relações reais e virtuais. Essas relações acontecem no ciberespaço, que segundo Couto, é o local onde “as pessoas edificam interfaces imersas numa outra realidade, para se comunicar, relacionar e produzir saber, vindo a constituir o chamado mundo virtual.” (Fonseca e Couto, 2005, p.47).
                                                 
No ciberespaço surgem as comunidades virtuais formadas por sujeitos com objetivos e valores em comum. Para entender o significado de comunidades virtuais, é interessante antes reconhecer as diferenças e semelhanças entre as idéias de comunidade e sociedade.

Baseada nas relações da Sociologia e defendido por autores clássicos da área, os conceitos de comunidade e sociedade traz diversos aspectos em comum. O entendimento criado sobre sociedade designa características relacionadas aos interesses individuais ou de grupos. Segundo Couto são relações que emergem o “individualismo, impessoalidade, contratualismo, procedentes do desejo ou do mais puro interesse, mais do que dos complexos estados efetivos, hábitos e tradições subjacentes à comunidade.” (Fonseca e Couto, 2005, p. 49). Quanto ao entendimento de comunidades, emerge as idéias dos laços sentimentais, pertencimento e união.

A partir dessas idéias de comunidade surgem as relações, interações e os valores norteadores dessas comunidades. No mundo real, essas relações são construídas com os familiares, vizinhos, colegas de escola e/ou trabalho, etc. Já no mundo virtual, normalmente, as comunidades são criadas através de objetivos em comum, muitas vezes encontrados no ciberespaço.

Nas comunidades virtuais não há espaço para endereços fixos. O que caracteriza as comunidades virtuais são justamente as relações de interesse criadas no ciberespaço e os laços afetivos. Segundo Rheingold, comunidades virtuais são:
[...] agregados sociais que surgem da internet quando uma quantidade de gente leva adiante essas discussões públicas durante um determinado tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações pessoais no ciberespaço (Rheingold, 2003: 20 Apud Fonseca e Couto, p.51).

Nesses espaços diferentes graus de relações são trocadas, desde troca de conhecimentos à conquistas afetivas, os sujeitos vão interagindo constantemente. Na atual sociedade contemporânea, com a mobilidade e todos seus artefatos tecnológicos móveis, as relações entre os sujeitos que compõe as comunidades tornaram-se mais complexas, constantes e instantâneas. A mobilidade ampliou a rede de contatos presentes nessas comunidades e potencializou as relações virtuais, pois nesse contexto é possível estar conectado inclusive em movimento. Hoje os sujeitos que frequentam essas comunidades e utilizam as tecnologias moveis buscam mais que simples relações. Já é comum encontrar comunidades que determinam movimentos sociais, realizam grupos de estudos, organizam eventos e encontros, criam discussões pertinentes com seus interesses, etc. Todas essas ações são desenvolvidas e difundidas em questões de segundos, pois seus integrantes convivem com seus artefatos móveis conectados 24 horas por dia. Dessa maneira, as comunidades virtuais vão ganhando visibilidade e consequentemente mais seguidores, mais contatos e mais encontros virtuais.
Como toda comunidade, seja ela presencial ou virtual, é necessário que haja as regras de convivência e procedimentos sociais, pois essa é a base para que os contatos e interações aconteçam com qualidade. Uma vez que é através dessa interatividade que é possível realizar as trocas entre todos os participantes de uma comunidade e expressar a sua própria identidade como participante, seja essa identidade real ou fictícia.
“Os espaços virtuais potencializam as comunidades virtuais no ciberespaço pela união de cidadãos conectados, agrupados virtualmente em torno de interesses específicos. Nesses espaços, definem regras, valores, limites, uso e costumes, os sentimentos e as restrições de acolhimento e pertencimento ao grupo. Isso viabiliza uma identidade cultural e social dos participantes, que flui do desejo de se estar vinculado a um determinado grupo, o qual terá a sua existência enquanto houver interesses dos participantes em usufruir desse ambiente.” (Fonseca e Couto, 2005, p.58 – 59)


Após a leitura do texto e diversas outras leituras sobre o tema uma inquietação me acompanha. Será que toda rede social pode ser considerado uma comunidade virtual? Qual a diferença, de fato, entre comunidade virtual e rede social?




FONSECA, Daisy e COUTO, Edvaldo. Comunidades virtuais: herança cultural e tendência contemporânea. In: PRETTO, Nelson. Tecnologia e novas Educações. Coleção educação, comunicação e tecnologias. Volume I. Salvador: Edufba, 2005

domingo, 20 de março de 2011

A modernidade liquida do tempo e do espaço

São muitos os conceitos de tempo e espaço, e ambos podem ser encontrados em diversas área do conhecimento. Dessa maneira, tanto o espaço quanto o tempo fizeram historia que percorreram diversas eras, chegando a atual era da modernidade liquida.
De acordo com o Minidicionario da Língua Portuguesa, tempo é “duração das coisas”, “duração ilimitada”, e espaço é “extensão indefinida”, “extensão superficial limitada” (Amora, 1999). Já na era da modernidade liquida as idéia de tempo e espaço relacionando-as com a idéia de fluidez, justamente pela sua característica de estar em constante mudança. É isso mesmo, nos tempos de ciberespaços e mobilidades, tempo e espaço, principalmente no mundo virtual, estão em constante transformação e mudança. Nessa perspectiva, “junto com o tempo, o espaço é uma forma a priori de percepção, quer dizer, ele existe sem que seja necessário apelar a qualquer experiência anterior.” (Santaella, 2007, p. 162)
Nesse sentido, a fluidez destacada por Bauman também possui fenômenos líquidos, representando uma característica dos dias atuais e da sociedade moderna, em que vê a relação espaço/tempo com um novo olhar de maleabilidade, flexibilidade e da capacidade de moldar-se em relação às infinitas estruturas.

As linguagens líquidas, comuns na sociedade moderna, tornam-se ainda mais presente no ciberespaço devido principalmente a mobilidade, a inconstância e ao “derretimento dos sólidos”, tão citado por Bauman, refletindo a idéia de que na atual sociedade nada deve ser considerado, sólido, duradouro, eterno, pois as mudanças são constantes e velozes e as idéias iniciais podem ser “derretidas”, modelada e transformada em uma nova idéia. Esse derretimento dos sólidos explicita um tempo de desapego e liberdade.

Com essa concepção, onde as linguagens, as comunicações e as interações são liquidas, a individualização é uma conseqüência dos desprendimentos das redes sociais. Desse modo, as relações de poder também passam por transformações, “o que está acontecendo hoje é, por assim dizer, uma redistribuição e realocação dos "poderes de derretimento" da modernidade”. (Bauman, 2001, p. 14).

Uma característica da sociedade moderna é a relação do tempo e espaço, que só tem sentido na modernidade liquida quando estão “separados da prática da vida e entre si, e assim podem ser teorizados como categorias distintas e mutuamente independentes da estratégia e da ação” (Bauman, 2001, p. 16).

Nessa perspectiva, tanto o tempo quanto o espaço possuem histórias. O tempo, confirmando as novas características sociais, preza pela volatilidade e pelo poder, determinando o domínio dos sujeitos que percebiam a sua liquidez. O espaço, já não resiste mais em possuir um “endereço fixo”, afinal vivemos num momento considerado extraterritorial, principalmente no mundo virtual que é um espaço contra a territorialidade. Na modernidade líquida não existe compromisso com a idéia de permanência e durabilidade.

O tempo, na sociedade moderna, está relacionado às questões sobre velocidade, flexibilidade e expansividade. A velocidade é variável de acordo com os atributos que lhe são impostos. A flexibilidade foi conquistada justamente por essa velocidade, assim, uma ação que necessite de uma grande quantidade de tempo para um sujeito, para outro o tempo pode ser menor, tornando as ações flexíveis. E a expansividade, que foi adquirida diante do dinamismo de determinadas ações e estratégias pessoais e sociais, afinal, é possível num mesmo espaço de tempo realizar diversas ações, principalmente no mundo virtual.  Essas três características já fazem parte da sociedade moderna, que compreende o tempo como volátil e instantâneo.

Já o espaço passa por grandes transformações na modernidade liquida. O que se busca nos dias atuais não é mais conquistar espaços físicos (territórios) e sim “derrubar” as paredes e muros que delimitam os sujeitos que pertencem a determinados espaços a conhecerem e interagirem com os outros espaços sociais. É a idéia da desterritorialização ganhando poder global, que está em crescente processo de fluidez.

Diante dessas características descritas acima, surge novos tipos de espaço, sugeridos por Bauman, como as comunidades, que são os espaços compartilhados por sujeitos que possuem os mesmo interesses e opiniões. Nessa área, o respeito aos espaços e as idéias dos outros é fundamental e imprescindível.

Os espaços urbanos são os considerados lugares comuns de uma sociedade. Dentro desses espaços públicos há áreas que estimulam o contato, a troca e a interação entre os sujeitos, promovendo a civilização; e há áreas que estimulam o consumo e a ação, independente de estimular a interação.

O espaço que estimula o consumo é chamado de não-lugares, pois geralmente são espaços que não possuem relações com o cotidiano do sujeito, são apenas espaços normalmente destinados para o consumo.
 “os não-lugares aceitam a inevitabilidade de uma adiada passagem, às vezes muito longa, de estranhos, e fazem o que podem para que sua presença seja "meramente física" e socialmente pouco diferente, e preferivelmente indistinguível da ausência, para cancelar, nivelar ou zerar, esvaziar as idiossincráticas subjetividades de seus "passantes'” (Bauman, 2001, p.119).

Outro estilo de espaço são os chamados de espaços vazios. Esses são os espaços que não possui significado para o sujeito. Normalmente são os espaços não vistos ou não conhecidos, daí não possuir nenhum significado. Segundo Santaella (2007, p. 177), os mapas internos de um determinado lugar “são compostos de espaços cheios, os lugares que freqüentamos, e vazios, os lugares que ignoramos.”

Enfim, o tempo faz parte da modernidade liquida. Ele é volátil, manipulável e fluido, principalmente pela sua dinamicidade, tornando-se uma ferramenta voltada principalmente para vencer a resistência do espaço. Já o espaço, em tempos de liquefação, é desterritorializado e sem fronteiras; ele não impõe mais limites à ação e seus efeitos.
“aplicado à relação tempo-espaço, isso significa que, como todas as partes do espaço podem ser atingidas no mesmo período de tempo (isto é, em "tempo nenhum"), nenhuma parte do espaço é privilegiada, nenhuma tem um "valor especial" Se todas as partes do espaço podem ser alcançadas a qualquer momento, não há razão para alcançar qualquer uma delas num dado momento e nem tampouco razão para se preocupar em garantir o direito de acesso a qualquer uma delas.” (Bauman, 2001, p. 137)




Referências bibliográficas

AMORA, Soares. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Saraiva, 1999

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001

SANTAELLA, Lucia. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007