terça-feira, 28 de junho de 2011

ETNOGRAFIA VIRTUAL

Estudar o homem, a humanidade e suas interações fazem parte da história social de todos os tempos. É através desses estudos que é possível compreender, de maneira profunda, o processo de construção das identidades, das comunidades e das sociedades locais.
As pessoas que buscam investigar sobre as interações sociais normalmente utilizam a etnografia como o método para recolher tais informações, através dos contatos e convívios com um determinado grupo social.
Com o advento da internet, novos espaços e tempos sociais surgiram, estimulando assim os estudos e as investigações no ciberespaço, afinal este também é um espaço onde é possível criar identidades, interações, comunidades, etc. É comum encontrar pesquisas no ciberespaço tratando de assuntos sobre as práticas de escrita e leitura digital, sobre interações, os relacionamentos, as construções de conhecimentos, as identidades, as redes sociais, enfim, as práticas sitiadas na internet.
Independente do tipo de pesquisa que se quer realizar no ciberespaço, o uso da etnografia virtual deve ter o mesmo rigor utilizado no método etnográfico, afinal, como já dizia Lévy, o virtual não pode ser compreendido como oposto ao real. Assim, o comprometimento e a seriedade devem fazer parte dessa opção de pesquisa. Contudo ainda há pesquisadores que se mantém receosos quando o assunto é sobre pesquisas no ciberespaço, pois, apesar do contato também ser constante nesses  ambientes, a idéia de que as pessoas com que eles estão interagindo podem estar fingindo ou mascarando as informações, é uma realidade, comprometendo a veracidade da pesquisa.
Atualmente tem se discutido e pesquisado bastante, por exemplo, sobre bullying e/ou sobre os grupos de adolescentes que praticam atos de violência organizados na internet. Muitas dessas ações acontecem nos espaços virtuais, normalmente nas redes sociais, como o Orkut, onde essas pessoas utilizam tais espaços para organizar os atos de violência ou para criar comunidade depreciando uma determinada pessoa. Assim, como é possível deixar o espaço virtual à margem dos espaços de pesquisa social?
Enfim, acredito que o importante é compreender que o virtual não altera as interações sociais e sim possibilita a criação de novos meios para a promoção dessas interações. Dessa maneira, como qualquer outro espaço, este também merece a realização de pesquisas.

domingo, 22 de maio de 2011

BEM VINDO À CULTURA DA CONVERGÊNCIA

“Bem vindo à cultura da convergência, onde as velhas e as novas mídias colidem, onde mídia corporativa e mídia alternativa se cruzam, onde o poder do produtor de mídia e o poder do consumidor interagem de maneiras imprevisíveis.”
Esta é a frase que Jenkins, autor do livro Cultura da Convergência, usa para nos convidar a ler e entender do assunto. E é nesse convite que farei minha reflexão sobre convergência.
1. “Onde as velhas e as novas mídias colidem

       


Essa colisão de mídias pode ser vistas em alguns dispositivos tecnológico, mas são os celulares de última geração os maiores representantes, pois desde que este começou a se conectar com a internet e oferecer mensagens de texto (inclusive ao vivo), telefonia, videoconferências, rádios, gravação de músicas, fotografia, televisão, acesso a livros, jornais, revistas, etc, seu uso tornou-se ubíquo e a relação do dono com o seu celular ficou mais especial. Afinal, por que esperar para acessar seus emails em casa quando você pode fazer isso em qualquer lugar com o seu celular? Por que comprar uma máquina fotográfica se seu celular possui uma de alta definição? Por que gravar seu programa de TV se você pode assistir em qualquer horário e lugar do seu celular?
O uso do celular, como um dos ícones da convergência, potencializou o acesso das pessoas às informações, aos bancos de dados, às redes sociais, às contas de email, etc., possibilitando o acesso em qualquer lugar e inclusive em movimento. Como conseqüência dessa acessibilidade constante, as barreiras de tempo e espaço são derrubadas definitivamente.
A tendência dessa evolução digital é tornar as pessoas cada vez mais ativa dentro da cibercultura, convidando-as a participar ativa e colaborativamente da rede, produzindo, alterando e transformando as relações sociais.

2. “Onde mídia corporativa e mídia alternativa se cruzam



Com a cultura da convergência as transformações tecnológicas ampliam os espaços para as transformações de consumo das mídias. Agora os conteúdos midiáticos se misturam com os objetos do nosso cotidiano como se fizéssemos parte daquela realidade. Agora os conteúdos midiáticos se complementam em diversos suportes midiáticos como uma extensão para a sua usabilidade.

Nesse sentido, não basta apenas produzir um filme, por exemplo. Junto com o filme a empresa responsável lança objetos para uso dos consumidores, como copos, mochilas, cadernos, etc. Ou será que vc nunca percebeu que o “Sherek” está presente nos objetos que nos cercam? É a convergência mercadológica.
Nessa mesma linha, está o filme Matrix, que para garantir sua continuidade, e garantir mais acesso a sua produção, lançou o desenho animado Animatrix. Ou, trazendo para o Brasil, o filme Divã, que atualmente é apresentado como série numa rede de televisão. É a mídia corporativa cruzando com a mídia alternativa.
E numa proposta ainda mais financeira, existem os games que são criados a partir de alguns livros ou filmes em que alguns desafios para passar de fase e conseguir avançar no jogo, só é possível se a pessoa ler o livro ou assistir o filme. Ou seja, são as idéias e desafios convergindo entre a mídia principal e as possíveis mídias que podem ser criadas.

  
     
 3. “Onde o poder do produtor de mídia e o poder do consumidor interagem de maneiras imprevisíveis
Com a convergência das mídias a linha que separa o produtor do consumidor é muito tênue, pois essas relações agora são interligadas. O produtor, seja de uma obra, de uma música, de um filme e até mesmo de uma idéia, em algum momento é também o consumidor, até mesmo para, colaborativamente, realizar tal produção.
Na convergência, uma pessoa que normalmente é consumidora das informações e dos conhecimentos disseminados na rede, pode vir a ser um produtor, um autor. Um exemplo bem comum são os blogs. Ao produzir um blog, a pessoa torna-se consumidora e produtora. Outro exemplo, e que tem se tornado bem comum na nossa sociedade, são os registros que as pessoas fazem com os seus celulares e disponibilizam na rede, como foi o caso, num outro dia, de um ônibus que incendiou em frente à Faced e no mesmo instante, diversas pessoas estavam registrando o acidente e postando no Youtube. Ou seja, naquele momento essas pessoas estavam sendo autores, estavam produzindo uma informação que seria consumida por milhares de outras.




Enfim, as transformações tecnológicas promovidas pela convergência estão interligadas à mobilidade, aos avanços tecnológicos, aos avanços culturais e a liquidez dos territórios e das informações. São as idéias de colaboração, inteligência coletiva e participação tornando-se mais comuns na sociedade atual.

"NA TELEVISÃO, NADA SE CRIA, TUDO SE COPIA” (CHACRINHA)

Essa frase de Chacrinha é bem conhecida no meio das produções televisivas. Já dizia o autor da frase, que nesse meio os programas estavam sempre sendo produzidos a partir das idéias de programas já existentes. Na verdade os programas que eram produzidos não eram cópias fiéis dos já existentes e sim programas com perfis semelhantes, que com uma nova roupagem poderia alcançar outros objetivos, inclusive os de audiência.
Será que Chacrinha já insinuava os processos de plágio, colaboração e co autoria? Será que os programas não tinham autores para reclamar das cópias? Será que os autores dos programas ditos copiados precisavam de uma referência de programa já existente para produzir o seu?
Bom, trazendo essa questão para o mundo virtual, é sabido que com o advento da internet, as informações e os conhecimentos estão sempre circulando e sempre em processo de construção. Essas construções acontecem justamente em contatos com outros conhecimentos e são essas novas construções que passam a circular ampliando os conhecimentos anteriores. Nessa perspectiva, é correto afirmar que não existe autor? Eis a questão, afinal, o autor precisa de conhecimentos prévios, possibilitados por leituras de outros autores e obras, para produzir novas obras. Por esse ângulo, o autor estaria criando ou colaborando?
Em outros tempos, quando as produções eram registradas e o principal interesse era o comercial, com fins lucrativos, os autores tinham suas obras “preservadas” através dos direitos autorais e no entendimento comum das pessoas, o autor era o produtor “único” da sua obra. Contudo com o passar dos tempos e com a internet, outras idéias foram sendo disseminadas no nosso meio social. Com o acesso ao mundo virtual fazendo parte da nossa sociedade e com as possibilidades que esse espaço promove, a idéia da inteligência coletiva, tão defendida por Lévy, ganha força, e as produções de colaboração se fazem presentes na difusão das informações e dos conhecimentos. É fato que muitas obras, até então desconhecidas, passam a ser referências quanto citadas em outras produções. E esse é o in sight da cibercultura: socializar informação, disseminar conhecimento, circular idéias.
É claro que ainda existem os direitos autorais, mas como agora o maior interesse dos autores está na divulgação das suas obras, a sua utilização parcial ou total, desde que citada e devidamente referenciada tornou-se comum, afinal do que adianta possuir uma produção que ninguém tem acesso. É mais interessante para um autor ter sua obra socializada para que mais pessoas tenham acesso a ela.
Assim, em tempos de cibercultura e produção colaborativa, tão importante do que quem cria a informação é o seu poder de circulação e, consequentemente, a promoção de novos conhecimentos e novas relações sociais e culturais. É certo que a figura do autor é importante, principalmente quando este é referência na área, pois suas produções se objetivam para esse fim. Mas produzir novos conhecimentos atuando como co autor já é uma realidade na nossa sociedade.



A MOBILIDADE POTENCIALIZA NOVAS RELAÇÕES

A idéia de mobilidade não é recente, ela já faz parte da nossa sociedade desde a época em que o nomadismo era a referência social. Assim, a mobilidade partindo de uma idéia tradicional, é entendida através do movimento, deslocamento.
Com a necessidade dos limites territoriais, a mobilidade passa a ser tratada com a idéia de territorialiedade, onde, se deslocar entre esses limites já caracterizava uma mobilidade. Essa idéia perdurou por bastante tempo, até a consolidação dos meios de transportes e dos meios de comunicação. Nessa fase, os limites territoriais começam a ser derrubados, caracterizando uma mobilidade globalizada, onde as relações, os saberes, as interações, são universais e as idéias de espaço e tempo começam a ser modificadas.
Avançando a idéia de mobilidade, na era da globalização chega-se ao formato atual, onde a mobilidade é virtualizada com todas as suas conexões móveis e sem fio. Nesse momento, as idéias de territorialização, endereços fixos, solidez, não fazem mais parte desse contexto; sendo agora marcados pela desterritorialização e pela liquidez comuns à mobilidade.
Essa transição histórica da mobilidade são complementares e convergentes, sendo necessário a existência de uma para o surgimento da outra. Assim, elas se complementam e todos possuem seu valor na evolução social e tecnológica.
A mobilidade como idéia de fluidez e deterritorialização está relacionada as possibilidades das pessoas de superar as dificuldades do movimento e assim alcançar a sua acessibilidade. Ou seja, a mobilidade só terá sentido como fluidez e ubiqüidade, quando de fato os acessos, uma vez reduzido pelas limitações das questões impostas pela presença e pela territorialidade, forem superados, possibilitando que as pessoas alcancem seus objetivos em qualquer lugar e qualquer tempo.
Enfim, a mobilidade promove novas relações com o tempo, com o espaço e com os diversos territórios representando uma característica dos dias atuais e da sociedade moderna, em que vê essas relações com um novo olhar de maleabilidade, flexibilidade e da capacidade de moldar-se em relação às infinitas estruturas.

                                                       FOTO: Seminário sobre Mobilidade

domingo, 1 de maio de 2011

Em busca de uma cultura digital

Na sociedade contemporânea, com a acessibilidade às tecnologias da informação e comunicação (TIC’s), as mudanças sociais estão acontecendo numa grande velocidade. Muito desses acontecimentos se deve ao fato dessa expansão tecnológica chegar a todas as classes sociais, uniformizando assim a informação e transformando o cidadão num ser informado e tecnológico.

Esse contexto vem transformando a capacidade das pessoas em se comunicar, interagir, conviver e, principalmente, em ensinar e aprender. Assim, para acompanhar essas transformações, o profissional já não pode se limitar a formação inicial, pois com a velocidade das mudanças sociais, o que ele aprendeu no início da carreira, no decorrer da mesma ou ao seu final já tornou-se obsoleto. Dessa forma, a formação continuada deve fazer parte de todas as profissões, promovendo o progresso sócio-econômico da sociedade como um todo. E em se tratando de educação, essa formação continuada deve ser significativa e condizente com as demandas sociais, principalmente no que diz respeito ao uso das TIC’s.

Em tempos de cibercultura onde a escola não é a única responsável pela transmissão de informação e conhecimentos, limitar-se a essa função é estar fora de todo o seu contexto social. Entretanto, quando a escola e seus atores entenderem essa nova dinâmica de interação e troca, comum na sociedade do conhecimento, ela desempenhará sua função social de formar cidadãos críticos e reflexivos. Este será seu momento de inserção da cultura digital.

Contudo, tratando de educação e tecnologias, a escola ainda se encontra fora do contexto social previsto. Infelizmente ela enfrenta problemas de ordem estrutural, pedagógica e tecnológica, tais como:

  • Laboratórios de informática presentes nas escolas sem condições de uso. Seja por insuficiência de máquinas para o numero de alunos ou por falta de manutenção das mesmas ou por falta de profissionais capacitados para seu uso;

  • Redução do uso dos computadores apenas como ferramentas e não como meio para auxiliar no processo de ensino e aprendizagem;

  • Utilização limitada do uso das tecnologias. Normalmente os computadores são utilizados como fonte de pesquisa, sendo proibido seu uso para acesso às salas de bate-papo, aos jogos, às comunidades virtuais e a diversos sites que poderiam promover interação em rede, produções colaborativas e trocas de conhecimentos;

  • Desarticulação do uso das tecnologias com os conteúdos pedagógicos. As aulas nos laboratório em quase nada possuem um link significativo com as disciplinas escolares, principalmente das áreas de exatas.

Muitos desses problemas acontecem por conta da proposta de inclusão digital estar desvinculada do processo educacional, afinal não basta apenas inserir as tecnologias na escola. Não adianta apenas criar laboratórios de informáticas nas escolas e oferecer cursos de formação para professores, se a concepção do uso das tecnologias não fizer parte do processo de ensino e aprendizagem. É necessário que haja, de fato, mudanças de paradigmas.  É o momento da escola estar aberta para novas aprendizagens.

Enfim, os programas de políticas públicas de inclusão digital estarão sempre sendo ofertados; o reconhecimento da necessidade de formação continuada para os professores é real; a inclusão dos alunos no mundo virtual de maneira significativa é imprescindível. Para tanto é necessário toda uma ressignificação na relação entre educação e tecnologia. Só dessa maneira será possível criar uma cultura digital, onde as interações, linguagens e conhecimentos serão ampliados e potencializados pelas tecnologias.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

INCLUSÃO DIGITAL: UTOPIA OU REALIDADE


“Inclusão digital”. Essa é uma expressão muito utilizada ultimamente; é praticamente um jargão no meio social. Contudo essa inclusão digital está relacionada às diversas mazelas sociais, que criam pessoas cada vez mais excluídas não só digital, mas socialmente.
Se há uma necessidade de inclusão é porque existe a exclusão. E na atual sociedade, a exclusão tornou-se normal até no que deveria ser considerado básico. Os serviços públicos de saúde, educação, transporte, água, luz, saneamento, enfim serviços que deveriam fazer parte da sociedade como um todo, só são considerados de qualidade quando pagos, privatizados. E nesse círculo vicioso surge o abismo entre a população considerada incluída e a excluída.
Nessa perspectiva, vivemos numa sociedade em que os que possuem condições de pagar são considerados os provedores (das idéias, modas, tendências, cultura, etc), e a grande população, que não pode pagar por determinados serviços são marginalizados.  Literalmente colocado à margem da sociedade. Assim, tratando-se de tecnologias e acesso ao mundo digital, ainda há exclusão social, uma vez que para ter esses serviços é necessário pagar por eles. Dessa maneira, os abismos virtuais vão ficando mais profundos para grande parte da população que não tem acesso ao mundo digital.
E o que fazer com essas pessoas? Deixá-las excluídas? Impossível. Impossível, principalmente na sociedade onde os modismos imperam. Estar conectado, em rede, é a cultura do momento. Assim, as pessoas vão aos poucos tentando se incluir nesse mundo, nessa cultura. Seja freqüentando uma lan-house, seja utilizando os laboratórios de informática da escola, seja adquirindo dispositivos móveis com acesso à internet.
A população considerada excluída não quer ser excluída, principalmente excluída digital. Afinal, no mundo virtual, essas pessoas podem aparecer, criar, produzir, opinar, enfim, em rede elas podem ser “ouvidas”, se fazer presente na mesma sociedade que a exclui em outros aspectos. Em rede, as pessoas podem ser valorizadas, respeitadas; não pela sua condição social, mas pelas suas produções e interações digitais. Estar em rede é sentir-se incluído digitalmente. Principalmente numa sociedade que julga e marginaliza os que estão fora dos “padrões”.
E quando podemos considerar uma pessoa incluída digitalmente? Apenas quando ela tem acesso às tecnologias? Ou quando ela possui uma conta de email, um perfil no Orkut ou no MSN? Será que apenas essas práticas são suficientes? Com certeza ainda é pouco. Tão importante quanto navegar pela web é poder ter o mundo na ponta do dedo de maneira significativa. Nesse sentido, cabe aos governos, escolas, universidades, organizações criarem condições de realmente incluir essas pessoas no mundo digital. Para haver uma inclusão digital de qualidade, como deveria haver em outros serviços, é importante que as pessoas entendam a dinâmica e o poder da internet para a própria vida e a coletividade. Essa compreensão pode ser o inicio do processo de inclusão digital e social.
Assim, para que haja uma inclusão digital de verdade, é necessário muito mais do que oferecer acesso; muito mais do que ensinar a manusear o computador. Para que haja inclusão digital, é necessário um repensar social sobre as potencialidades da internet para a vida pessoal e social das pessoas e todas as suas contribuições para a sociedade em que está inserida. Só assim, consciente, haverá a inclusão digital. Do contrário, a exclusão persistirá.
Exemplos de exclusão quando a inclusão não é significativa:



domingo, 10 de abril de 2011

Software livre: Tempo de desapego e liberdade

lourilucio.blogspot.com



Vivemos numa sociedade capitalista. Dinheiro, fama, poder... são determinantes para dar valor a uma pessoa ou uma empresa. São as suas propriedades privadas que possibilitarão o acúmulo de riquezas. São as suas idéias que ditarão as regras e tendências sociais.
Contudo os tempos mudam. Na atual sociedade as pessoas não querem apenas seguir idéias, elas querem criar suas idéias e compartilhar. As pessoas querem ser ativas e querem ter permissão de mostrar sua capacidade intelectual.
Em tempos de cibercultura, com a interconectividade, as idéias relacionadas ao poder e às tecnologias mudam de figura. Atualmente tem poder quem socializa, quem colabora, quem compartilha. A idéia de propriedade privada, como alguém dono de um produto, desmorona dando espaço às propriedades compartilhadas, onde o produto é disseminado, compartilhado e acessado por todos. Seja esse produto uma música, um vídeo, textos, programas, software, etc.
Seria o fim do monopólio das empresas responsáveis pela criação de programas e softwares? Seria a “queda” de uma sociedade capitalista que enriquece com esse tipo de negócio? Ainda é cedo para afirmar, mas o fato é que agora os caminhos são outros.
Estamos na época da liberdade tecnológica, onde programas, softwares, idéias, obras podem ser compartilhadas. Época em que quanto mais se compartilha de uma obra tecnológica, mais disseminada e consolidada ela estará no mercado. Época do software livre, onde seus códigos são abertos e executáveis. Colaborativamente, compartilhadamente
Em tempos de fluidez e mobilidade, as licenças abertas é um passo para “quebrar” com o monopólio dos softwares proprietário. Afinal, se podemos colaborar e compartilhar idéias para softwares, programas, aplicativos, etc, podendo modificar seu conteúdo de forma a atender uma necessidade ou até mesmo melhorar a sua qualidade, por que temos que “obedecer” os programas prontos, sólidos, acabados???
 Compreender essas mudanças libertárias não ocorre de um momento para o outro. É difícil para as empresas que ganharam fortunas com vendas de softwares e difícil para as pessoas que “consumiam” essas obras. É difícil, não impossível. Principalmente porque quem mais almeja essas transformações são as pessoas, justamente por conta de não querer ser apenas um consumidor. Elas agora querem ter poder de escolha. Querem selecionar, compartilhar e colaborar nos softwares, programas e obras que estão sendo criadas e disseminadas no ciberespaço.
É fato que a resistência à mudanças é um problema cultural, e com o software livre não seria diferente, afinal os primeiros softwares, programas, aplicativos que foram nos foram apresentados pertenciam a tão conhecida Microsoft, com seu famoso Windows. Era o que a sociedade tinha acesso. Era o que as empresas vendiam para as pessoas e estas não possuíam opção de escolha, limitando, assim, sua liberdade e “obrigando” a utilização unicamente desse software.
Os tempos avançam e software livre ganha espaço, mas ainda é limitado e desconhecido de muitos. Apesar de já haver no mercado, computadores com o sistema operacional Linux, e as pessoas terem o poder de escolha, o grande consumo ainda é do Windows. Será que é carma? Insegurança? Medo do novo? Eu, particularmente, acho que é falta de conhecimento. Falta de conhecimento da dinâmica do software livre e de suas vantagens.
Enfim, como já dito anteriormente, os tempos são outros. Precisamos estar abertos a essas transformações. Inicialmente pode ser difícil, pois possuímos idéias enraizadas. Mas tentar entender a dinâmica do software livre e utilizá-la já é um passo para esse mundo de colaboração e compartilhamento. Que tal começar conhecendo outros sistemas operacionais e de navegação? Que tal navegar pelas ondas do Linux e do Mozilla Firefox? Está dado o convite!!!


domingo, 3 de abril de 2011

WEB 2.0 e os seus caminhos virtuais

Transformar, mudar, evoluir. Esse é o caminho de toda sociedade. E com o advento da internet essas transformações foram cobradas, desejadas, executadas. São os novos rumos da cibercultura em tempos de velocidade, instantaneidade, atemporalidade. É a Web 2.0 modificando as maneiras de navegar no mundo virtual; antes estática, agora dinâmica.

Na primeira geração da web, os objetivos comuns dos sites presentes na internet eram com a publicação dos conteúdos, normalmente elaborada por pessoas especialistas, e disponibilidades de dados, tornando essas páginas estáticas, sem interatividade e com conteúdos isolados. As relações nessa geração eram individuais e a interação era relacionada com processos de ação e reação, comuns, por exemplo, nos contatos através de email, onde um sujeito escreve e outro responde.

Com os avanços tecnológicos, a evolução na comunicação e para atender as necessidades da sociedade contemporânea, surge a Web 2.0 como uma urgência dos nativos digitais em interagir nesses ambientes que fazem parte do seu cotidiano. É o desejo de sair da passividade para criar, editar, participar, enfim, ser ativo no ciberespaço. Segundo Primo:

A Web 2.0 é a segunda geração de serviços online e caracteriza-se por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os espaços para a interação entre os participantes do processo.” (Primo, 2007, p.1)

A Web 2.0 é um convite à interação. Seu foco é na interação e participação dos sujeitos no ciberespaço. Os ambientes virtuais são mais propícios a criação e manutenção das redes sociais. As comunidades virtuais fazem parte do cotidiano dos sujeitos com interesses em comum. Os conteúdos são produzidos coletivamente. Os arquivos são socializados, podendo ser baixados ou postados. Tudo isso num movimento constante, fluido e dinâmico.

Em tempos de cooperação, as produções são colaborativas e as construções dos saberes ocorrem de forma coletiva. “É uma inteligência distribuída por toda a parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências”. (Lévy, 1998, p.28). Dessa maneira, quanto mais pessoas estiverem conectadas, interagindo e participando, mais produções serão criadas e mais saberes construídos, valorizando assim as práticas colaborativas e as autorias. Os sujeitos são produtores e consumidores de conteúdos. Os conteúdos são interativos e interligados, convidando os sujeitos para uma exploração mais complexa e completa na sua navegação.

Muito dos avanços da Web 2.0 se deu por conta da convergência das tecnologias, dos espaços, das pessoas, das linguagens. Nessa geração, todos estão conectados e essa conexão acontece em rede. A convergência das mídias também acontece nas diversas funções que os dispositivos móveis de comunicação possuem.

“Quando unimos em um mesmo aparelho as funções de escrita; tocar, executar e gravar áudio e vídeo e ao mesmo tempo estar conectado na Internet sem fios temos unidades móveis capazes de suportar a convergência de mídias” (Pellanda, 2003, p.8).

A mobilidade representa mais uma evolução da Web 2.0. Com os dispositivos móveis e com a interligação de diversas redes de comunicação, a acessibilidade ao ciberespaço passa a ser constante e instantânea. Nessa perspectiva, segundo Pellanda (2003), a comunicação passa a ser ubíqua, ou seja, acontece em qualquer lugar e em qualquer horário. Como conseqüência dessa mobilidade e para atender os sujeitos que interagem através dos seus portáteis, diversos sites e serviços da web ganharam versão compatível com esses atuais dispositivos de comunicação. Dessa forma, as informações não se limitam às palmas das mãos e como autores e colaboradores, as informações são potencialmente difundidas, justamente pela facilidade de registrar e publicar os acontecimentos sociais.

É o poder da comunicação na Web 2.0. É a necessidade de estar em comunidade interagindo. São as linguagens liquidas produzindo informações em todos os momentos e em todos os lugares. São as mudanças comuns à vida em sociedade.




LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. São Paulo: Record, 1998.

PELLANDA, Eduardo Campos. Convergência de mídias potencializada pela mobilidade e um novo processo de pensamento. In: XXVI Congresso Anual em Ciência da Comunicação – INTERCOM - Belo Horizonte/MG, 2003. Disponível em: http://galaxy.intercom.org.br:8180/dspace/bitstream/1904/4747/1/NP8PELLANDA.pdf   Acesso em 03/04/2011

PRIMO, Alex. O aspecto relacional das interações na Web 2.0. E- Compós (Brasília), v. 9, p. 1-21, 2007.
__________. Fases do desenvolvimento tecnológico e suas implicações nas formas de ser, conhecer, comunicar e produzir em sociedade. In: PRETTO, Nelson De Luca; SILVEIRA, Sérgio Amadeu da. Além das redes de colaboração: internet, diversidade cultural e tecnologias do poder. Salvador: EDUFBA, 2008.




quinta-feira, 31 de março de 2011

Um novo olhar sobre as comunidades

Viver em sociedade é uma necessidade básica do sujeito e é nas relações sociais que ele adquire novos saberes e constrói sua identidade e cultura. As primeiras relações do sujeito que vive em sociedade acontecem dentro das comunidades. São nesses espaços que as principais idéias de convívio e interação são apresentadas; são nesses espaços que as normas, regras e leis são elaboradas para serem cumpridas; são nesses espaços que o equilíbrio para a vida em sociedade é construída.
 A primeira comunidade que o sujeito tem contato é o seu lar familiar, e é nesse espaço que surgem as proteções, o convívio natural e as primeiras regras e rotinas. Com a idéia interiorizada da importância de se viver em comunidade, os sujeitos vão ampliando seu rol de contatos e então participando de novas comunidades; agora criadas na escola, no bairro, na faculdade, no trabalho e em tempos de cibercultura, no espaço virtual. Mesmo selecionando suas comunidades de acordo com as afinidades, pertencimento, laços afetivos e sentimentos, o sujeito sabe da importância dos cumprimentos das normas e regras para que haja um convívio coletivo de qualidade, afinal são as relações entre os sujeitos que permite a vida em comunidade e numa visão mais ampla, a vida em sociedade.
Participar de uma comunidade é permitir ao sujeito que ele determine que grupo ele quer estar inserido. Não que seja necessário excluir um outro grupo, mas a liberdade de escolher qual meio o sujeito quer pertencer, é uma das características de viver em comunidade, uma vez que estar em comunidade é sentir-se seguro, pois são nesses espaços que os sujeitos encontrarão outros que pensam e agem semelhantes a eles, o que é uma grande vantagem para conviver nesse mundo imprevisível e de constantes mudanças.
Com os avanços das tecnologias, as comunidades deixaram de ter endereço fixo e ultrapassaram os limites de territorialidade.  Com o ciberespaço criam-se diferentes formas de comunicações e interações que promovem novas formas de sociabilidade. São as comunidades virtuais, no qual Rheingold (2003) conceitua como:
“[...] agregados sociais que surgem da internet quando uma quantidade de gente leva adiante essas discussões públicas durante um determinado tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações pessoais no ciberespaço.” (Rheingold, 2003: 20 Apud FONSECA e COUTO, 2005, p. 51)


Tão importante quanto as comunidades presenciais, as comunidade virtuais possuem algumas vantagens nas relações de tempo e espaço e nas interações, pois virtualmente as interações e comunicações são ilimitadas. O tempo já não é cronometrado, é instantâneo; o espaço não é mais delimitado, é desmaterializado; predomina o aqui e agora, possibilitando que mesmo à distância, as interações e comunicações ocorram de maneira imediata.
Nas comunidades virtuais os combinados e os cumprimentos das regras e das normas também são imprescindíveis para que a convivência ocorra em harmonia. Nos dias atuais é comum a participação nas comunidades virtuais, pois com as facilidades de interagir por meio das tecnologias móveis e sem que o contato seja face a face, os sujeitos sentem–se livres em expressar seus desejos, medos, alegrias e inseguranças. São as comunidades virtuais possibilitando que o sujeito expresse a sua identidade.
As comunidades virtuais também são criadas nas redes sociais e são nessas redes que muitas idéias são divulgadas, muitas identidades valorizadas e muitos perfis culturais formados. É através dos posts que os sujeitos se apresentam para sociedade e é a partir dessas apresentações que as comunidades vão sendo criadas, através de sujeitos com interesses, valores, desejos e sentimentos em comum.
“Os espaços virtuais potencializam as comunidades virtuais no ciberespaço pela união de cidadãos conectados, agrupados virtualmente em torno de interesses específicos. Nesses espaços, definem regras, valores, limites, uso e costumes, os sentimentos e as restrições de acolhimento e pertencimento ao grupo. Isso viabiliza uma identidade cultural e social dos participantes, que flui do desejo de se estar vinculado a um determinado grupo, o qual terá a sua existência enquanto houver interesses dos participantes em usufruir desse ambiente.” (Fonseca e Couto, 2005, p.58 – 59)

Nessa perspectiva as comunidades virtuais vão proliferando nas redes sociais e em tempos de mobilidade, estar “presente” constantemente nas redes sociais tornou-se uma realidade. A mobilidade ampliou a rede de contatos existentes nessas comunidades e potencializou as relações virtuais.  Hoje os sujeitos que frequentam essas comunidades e utilizam as tecnologias móveis buscam mais do estar em rede. Já é comum encontrar comunidades que determinam movimentos sociais, realizam grupos de estudos, organizam eventos e encontros, criam discussões pertinentes com seus interesses, realizam negócios, etc. Todas essas ações são desenvolvidas e difundidas em questões de segundos, pois seus integrantes convivem com seus artefatos móveis conectados 24 horas por dia. Dessa maneira, as comunidades virtuais vão ganhando visibilidade e, consequentemente, mais seguidores, mais contatos e mais encontros virtuais e presenciais.
“A dinâmica das comunidades virtuais nos conduz a compreender o homem no seu desenvolvimento e processo de aprendizagem, na sua interação e comunicação humana, o que o permite apropriar-se de novas realidades reais e virtuais, vindo a transformar seu meio. Relações antes não estabelecidas agora são viáveis, porque as pessoas interagem, tecendo uma complexa rede de possibilidades.” (Fonseca e Couto, 2005, p.59)

Enfim, nas comunidades, sejam virtuais ou não, as relações, as interações, as afetividades são reais. Estar em comunidade é um dos princípios para viver em sociedade e para promover a interação. É a união do real e do virtual ampliando e promovendo qualidade de vida dos sujeitos na sociedade.


FONSECA, Daisy e COUTO, Edvaldo. Comunidades virtuais: herança cultural e tendência contemporânea. In: PRETTO, Nelson. Tecnologia e novas Educações. Coleção educação, comunicação e tecnologias. Volume I. Salvador: Edufba, 2005


terça-feira, 29 de março de 2011

Comunidades virtuais

Com o advento da internet as barreiras do tempo e espaço foram derrubadas potencializando novas formas de comunicação e interação, interligando as relações reais e virtuais. Essas relações acontecem no ciberespaço, que segundo Couto, é o local onde “as pessoas edificam interfaces imersas numa outra realidade, para se comunicar, relacionar e produzir saber, vindo a constituir o chamado mundo virtual.” (Fonseca e Couto, 2005, p.47).
                                                 
No ciberespaço surgem as comunidades virtuais formadas por sujeitos com objetivos e valores em comum. Para entender o significado de comunidades virtuais, é interessante antes reconhecer as diferenças e semelhanças entre as idéias de comunidade e sociedade.

Baseada nas relações da Sociologia e defendido por autores clássicos da área, os conceitos de comunidade e sociedade traz diversos aspectos em comum. O entendimento criado sobre sociedade designa características relacionadas aos interesses individuais ou de grupos. Segundo Couto são relações que emergem o “individualismo, impessoalidade, contratualismo, procedentes do desejo ou do mais puro interesse, mais do que dos complexos estados efetivos, hábitos e tradições subjacentes à comunidade.” (Fonseca e Couto, 2005, p. 49). Quanto ao entendimento de comunidades, emerge as idéias dos laços sentimentais, pertencimento e união.

A partir dessas idéias de comunidade surgem as relações, interações e os valores norteadores dessas comunidades. No mundo real, essas relações são construídas com os familiares, vizinhos, colegas de escola e/ou trabalho, etc. Já no mundo virtual, normalmente, as comunidades são criadas através de objetivos em comum, muitas vezes encontrados no ciberespaço.

Nas comunidades virtuais não há espaço para endereços fixos. O que caracteriza as comunidades virtuais são justamente as relações de interesse criadas no ciberespaço e os laços afetivos. Segundo Rheingold, comunidades virtuais são:
[...] agregados sociais que surgem da internet quando uma quantidade de gente leva adiante essas discussões públicas durante um determinado tempo suficiente, com suficientes sentimentos humanos, para formar redes de relações pessoais no ciberespaço (Rheingold, 2003: 20 Apud Fonseca e Couto, p.51).

Nesses espaços diferentes graus de relações são trocadas, desde troca de conhecimentos à conquistas afetivas, os sujeitos vão interagindo constantemente. Na atual sociedade contemporânea, com a mobilidade e todos seus artefatos tecnológicos móveis, as relações entre os sujeitos que compõe as comunidades tornaram-se mais complexas, constantes e instantâneas. A mobilidade ampliou a rede de contatos presentes nessas comunidades e potencializou as relações virtuais, pois nesse contexto é possível estar conectado inclusive em movimento. Hoje os sujeitos que frequentam essas comunidades e utilizam as tecnologias moveis buscam mais que simples relações. Já é comum encontrar comunidades que determinam movimentos sociais, realizam grupos de estudos, organizam eventos e encontros, criam discussões pertinentes com seus interesses, etc. Todas essas ações são desenvolvidas e difundidas em questões de segundos, pois seus integrantes convivem com seus artefatos móveis conectados 24 horas por dia. Dessa maneira, as comunidades virtuais vão ganhando visibilidade e consequentemente mais seguidores, mais contatos e mais encontros virtuais.
Como toda comunidade, seja ela presencial ou virtual, é necessário que haja as regras de convivência e procedimentos sociais, pois essa é a base para que os contatos e interações aconteçam com qualidade. Uma vez que é através dessa interatividade que é possível realizar as trocas entre todos os participantes de uma comunidade e expressar a sua própria identidade como participante, seja essa identidade real ou fictícia.
“Os espaços virtuais potencializam as comunidades virtuais no ciberespaço pela união de cidadãos conectados, agrupados virtualmente em torno de interesses específicos. Nesses espaços, definem regras, valores, limites, uso e costumes, os sentimentos e as restrições de acolhimento e pertencimento ao grupo. Isso viabiliza uma identidade cultural e social dos participantes, que flui do desejo de se estar vinculado a um determinado grupo, o qual terá a sua existência enquanto houver interesses dos participantes em usufruir desse ambiente.” (Fonseca e Couto, 2005, p.58 – 59)


Após a leitura do texto e diversas outras leituras sobre o tema uma inquietação me acompanha. Será que toda rede social pode ser considerado uma comunidade virtual? Qual a diferença, de fato, entre comunidade virtual e rede social?




FONSECA, Daisy e COUTO, Edvaldo. Comunidades virtuais: herança cultural e tendência contemporânea. In: PRETTO, Nelson. Tecnologia e novas Educações. Coleção educação, comunicação e tecnologias. Volume I. Salvador: Edufba, 2005

domingo, 20 de março de 2011

A modernidade liquida do tempo e do espaço

São muitos os conceitos de tempo e espaço, e ambos podem ser encontrados em diversas área do conhecimento. Dessa maneira, tanto o espaço quanto o tempo fizeram historia que percorreram diversas eras, chegando a atual era da modernidade liquida.
De acordo com o Minidicionario da Língua Portuguesa, tempo é “duração das coisas”, “duração ilimitada”, e espaço é “extensão indefinida”, “extensão superficial limitada” (Amora, 1999). Já na era da modernidade liquida as idéia de tempo e espaço relacionando-as com a idéia de fluidez, justamente pela sua característica de estar em constante mudança. É isso mesmo, nos tempos de ciberespaços e mobilidades, tempo e espaço, principalmente no mundo virtual, estão em constante transformação e mudança. Nessa perspectiva, “junto com o tempo, o espaço é uma forma a priori de percepção, quer dizer, ele existe sem que seja necessário apelar a qualquer experiência anterior.” (Santaella, 2007, p. 162)
Nesse sentido, a fluidez destacada por Bauman também possui fenômenos líquidos, representando uma característica dos dias atuais e da sociedade moderna, em que vê a relação espaço/tempo com um novo olhar de maleabilidade, flexibilidade e da capacidade de moldar-se em relação às infinitas estruturas.

As linguagens líquidas, comuns na sociedade moderna, tornam-se ainda mais presente no ciberespaço devido principalmente a mobilidade, a inconstância e ao “derretimento dos sólidos”, tão citado por Bauman, refletindo a idéia de que na atual sociedade nada deve ser considerado, sólido, duradouro, eterno, pois as mudanças são constantes e velozes e as idéias iniciais podem ser “derretidas”, modelada e transformada em uma nova idéia. Esse derretimento dos sólidos explicita um tempo de desapego e liberdade.

Com essa concepção, onde as linguagens, as comunicações e as interações são liquidas, a individualização é uma conseqüência dos desprendimentos das redes sociais. Desse modo, as relações de poder também passam por transformações, “o que está acontecendo hoje é, por assim dizer, uma redistribuição e realocação dos "poderes de derretimento" da modernidade”. (Bauman, 2001, p. 14).

Uma característica da sociedade moderna é a relação do tempo e espaço, que só tem sentido na modernidade liquida quando estão “separados da prática da vida e entre si, e assim podem ser teorizados como categorias distintas e mutuamente independentes da estratégia e da ação” (Bauman, 2001, p. 16).

Nessa perspectiva, tanto o tempo quanto o espaço possuem histórias. O tempo, confirmando as novas características sociais, preza pela volatilidade e pelo poder, determinando o domínio dos sujeitos que percebiam a sua liquidez. O espaço, já não resiste mais em possuir um “endereço fixo”, afinal vivemos num momento considerado extraterritorial, principalmente no mundo virtual que é um espaço contra a territorialidade. Na modernidade líquida não existe compromisso com a idéia de permanência e durabilidade.

O tempo, na sociedade moderna, está relacionado às questões sobre velocidade, flexibilidade e expansividade. A velocidade é variável de acordo com os atributos que lhe são impostos. A flexibilidade foi conquistada justamente por essa velocidade, assim, uma ação que necessite de uma grande quantidade de tempo para um sujeito, para outro o tempo pode ser menor, tornando as ações flexíveis. E a expansividade, que foi adquirida diante do dinamismo de determinadas ações e estratégias pessoais e sociais, afinal, é possível num mesmo espaço de tempo realizar diversas ações, principalmente no mundo virtual.  Essas três características já fazem parte da sociedade moderna, que compreende o tempo como volátil e instantâneo.

Já o espaço passa por grandes transformações na modernidade liquida. O que se busca nos dias atuais não é mais conquistar espaços físicos (territórios) e sim “derrubar” as paredes e muros que delimitam os sujeitos que pertencem a determinados espaços a conhecerem e interagirem com os outros espaços sociais. É a idéia da desterritorialização ganhando poder global, que está em crescente processo de fluidez.

Diante dessas características descritas acima, surge novos tipos de espaço, sugeridos por Bauman, como as comunidades, que são os espaços compartilhados por sujeitos que possuem os mesmo interesses e opiniões. Nessa área, o respeito aos espaços e as idéias dos outros é fundamental e imprescindível.

Os espaços urbanos são os considerados lugares comuns de uma sociedade. Dentro desses espaços públicos há áreas que estimulam o contato, a troca e a interação entre os sujeitos, promovendo a civilização; e há áreas que estimulam o consumo e a ação, independente de estimular a interação.

O espaço que estimula o consumo é chamado de não-lugares, pois geralmente são espaços que não possuem relações com o cotidiano do sujeito, são apenas espaços normalmente destinados para o consumo.
 “os não-lugares aceitam a inevitabilidade de uma adiada passagem, às vezes muito longa, de estranhos, e fazem o que podem para que sua presença seja "meramente física" e socialmente pouco diferente, e preferivelmente indistinguível da ausência, para cancelar, nivelar ou zerar, esvaziar as idiossincráticas subjetividades de seus "passantes'” (Bauman, 2001, p.119).

Outro estilo de espaço são os chamados de espaços vazios. Esses são os espaços que não possui significado para o sujeito. Normalmente são os espaços não vistos ou não conhecidos, daí não possuir nenhum significado. Segundo Santaella (2007, p. 177), os mapas internos de um determinado lugar “são compostos de espaços cheios, os lugares que freqüentamos, e vazios, os lugares que ignoramos.”

Enfim, o tempo faz parte da modernidade liquida. Ele é volátil, manipulável e fluido, principalmente pela sua dinamicidade, tornando-se uma ferramenta voltada principalmente para vencer a resistência do espaço. Já o espaço, em tempos de liquefação, é desterritorializado e sem fronteiras; ele não impõe mais limites à ação e seus efeitos.
“aplicado à relação tempo-espaço, isso significa que, como todas as partes do espaço podem ser atingidas no mesmo período de tempo (isto é, em "tempo nenhum"), nenhuma parte do espaço é privilegiada, nenhuma tem um "valor especial" Se todas as partes do espaço podem ser alcançadas a qualquer momento, não há razão para alcançar qualquer uma delas num dado momento e nem tampouco razão para se preocupar em garantir o direito de acesso a qualquer uma delas.” (Bauman, 2001, p. 137)




Referências bibliográficas

AMORA, Soares. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Saraiva, 1999

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001

SANTAELLA, Lucia. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007