“Inclusão digital”. Essa é uma expressão muito utilizada ultimamente; é praticamente um jargão no meio social. Contudo essa inclusão digital está relacionada às diversas mazelas sociais, que criam pessoas cada vez mais excluídas não só digital, mas socialmente.
Se há uma necessidade de inclusão é porque existe a exclusão. E na atual sociedade, a exclusão tornou-se normal até no que deveria ser considerado básico. Os serviços públicos de saúde, educação, transporte, água, luz, saneamento, enfim serviços que deveriam fazer parte da sociedade como um todo, só são considerados de qualidade quando pagos, privatizados. E nesse círculo vicioso surge o abismo entre a população considerada incluída e a excluída.
Nessa perspectiva, vivemos numa sociedade em que os que possuem condições de pagar são considerados os provedores (das idéias, modas, tendências, cultura, etc), e a grande população, que não pode pagar por determinados serviços são marginalizados. Literalmente colocado à margem da sociedade. Assim, tratando-se de tecnologias e acesso ao mundo digital, ainda há exclusão social, uma vez que para ter esses serviços é necessário pagar por eles. Dessa maneira, os abismos virtuais vão ficando mais profundos para grande parte da população que não tem acesso ao mundo digital.
E o que fazer com essas pessoas? Deixá-las excluídas? Impossível. Impossível, principalmente na sociedade onde os modismos imperam. Estar conectado, em rede, é a cultura do momento. Assim, as pessoas vão aos poucos tentando se incluir nesse mundo, nessa cultura. Seja freqüentando uma lan-house, seja utilizando os laboratórios de informática da escola, seja adquirindo dispositivos móveis com acesso à internet.
A população considerada excluída não quer ser excluída, principalmente excluída digital. Afinal, no mundo virtual, essas pessoas podem aparecer, criar, produzir, opinar, enfim, em rede elas podem ser “ouvidas”, se fazer presente na mesma sociedade que a exclui em outros aspectos. Em rede, as pessoas podem ser valorizadas, respeitadas; não pela sua condição social, mas pelas suas produções e interações digitais. Estar em rede é sentir-se incluído digitalmente. Principalmente numa sociedade que julga e marginaliza os que estão fora dos “padrões”.
E quando podemos considerar uma pessoa incluída digitalmente? Apenas quando ela tem acesso às tecnologias? Ou quando ela possui uma conta de email, um perfil no Orkut ou no MSN? Será que apenas essas práticas são suficientes? Com certeza ainda é pouco. Tão importante quanto navegar pela web é poder ter o mundo na ponta do dedo de maneira significativa. Nesse sentido, cabe aos governos, escolas, universidades, organizações criarem condições de realmente incluir essas pessoas no mundo digital. Para haver uma inclusão digital de qualidade, como deveria haver em outros serviços, é importante que as pessoas entendam a dinâmica e o poder da internet para a própria vida e a coletividade. Essa compreensão pode ser o inicio do processo de inclusão digital e social.
Assim, para que haja uma inclusão digital de verdade, é necessário muito mais do que oferecer acesso; muito mais do que ensinar a manusear o computador. Para que haja inclusão digital, é necessário um repensar social sobre as potencialidades da internet para a vida pessoal e social das pessoas e todas as suas contribuições para a sociedade em que está inserida. Só assim, consciente, haverá a inclusão digital. Do contrário, a exclusão persistirá.
Exemplos de exclusão quando a inclusão não é significativa: