São muitos os conceitos de tempo e espaço, e ambos podem ser encontrados em diversas área do conhecimento. Dessa maneira, tanto o espaço quanto o tempo fizeram historia que percorreram diversas eras, chegando a atual era da modernidade liquida.
De acordo com o Minidicionario da Língua Portuguesa, tempo é “duração das coisas”, “duração ilimitada”, e espaço é “extensão indefinida”, “extensão superficial limitada” (Amora, 1999). Já na era da modernidade liquida as idéia de tempo e espaço relacionando-as com a idéia de fluidez, justamente pela sua característica de estar em constante mudança. É isso mesmo, nos tempos de ciberespaços e mobilidades, tempo e espaço, principalmente no mundo virtual, estão em constante transformação e mudança. Nessa perspectiva, “junto com o tempo, o espaço é uma forma a priori de percepção, quer dizer, ele existe sem que seja necessário apelar a qualquer experiência anterior.” (Santaella, 2007, p. 162)
Nesse sentido, a fluidez destacada por Bauman também possui fenômenos líquidos, representando uma característica dos dias atuais e da sociedade moderna, em que vê a relação espaço/tempo com um novo olhar de maleabilidade, flexibilidade e da capacidade de moldar-se em relação às infinitas estruturas.
As linguagens líquidas, comuns na sociedade moderna, tornam-se ainda mais presente no ciberespaço devido principalmente a mobilidade, a inconstância e ao “derretimento dos sólidos”, tão citado por Bauman, refletindo a idéia de que na atual sociedade nada deve ser considerado, sólido, duradouro, eterno, pois as mudanças são constantes e velozes e as idéias iniciais podem ser “derretidas”, modelada e transformada em uma nova idéia. Esse derretimento dos sólidos explicita um tempo de desapego e liberdade.
Com essa concepção, onde as linguagens, as comunicações e as interações são liquidas, a individualização é uma conseqüência dos desprendimentos das redes sociais. Desse modo, as relações de poder também passam por transformações, “o que está acontecendo hoje é, por assim dizer, uma redistribuição e realocação dos "poderes de derretimento" da modernidade”. (Bauman, 2001, p. 14).
Uma característica da sociedade moderna é a relação do tempo e espaço, que só tem sentido na modernidade liquida quando estão “separados da prática da vida e entre si, e assim podem ser teorizados como categorias distintas e mutuamente independentes da estratégia e da ação” (Bauman, 2001, p. 16).
Nessa perspectiva, tanto o tempo quanto o espaço possuem histórias. O tempo, confirmando as novas características sociais, preza pela volatilidade e pelo poder, determinando o domínio dos sujeitos que percebiam a sua liquidez. O espaço, já não resiste mais em possuir um “endereço fixo”, afinal vivemos num momento considerado extraterritorial, principalmente no mundo virtual que é um espaço contra a territorialidade. Na modernidade líquida não existe compromisso com a idéia de permanência e durabilidade.
O tempo, na sociedade moderna, está relacionado às questões sobre velocidade, flexibilidade e expansividade. A velocidade é variável de acordo com os atributos que lhe são impostos. A flexibilidade foi conquistada justamente por essa velocidade, assim, uma ação que necessite de uma grande quantidade de tempo para um sujeito, para outro o tempo pode ser menor, tornando as ações flexíveis. E a expansividade, que foi adquirida diante do dinamismo de determinadas ações e estratégias pessoais e sociais, afinal, é possível num mesmo espaço de tempo realizar diversas ações, principalmente no mundo virtual. Essas três características já fazem parte da sociedade moderna, que compreende o tempo como volátil e instantâneo.
Já o espaço passa por grandes transformações na modernidade liquida. O que se busca nos dias atuais não é mais conquistar espaços físicos (territórios) e sim “derrubar” as paredes e muros que delimitam os sujeitos que pertencem a determinados espaços a conhecerem e interagirem com os outros espaços sociais. É a idéia da desterritorialização ganhando poder global, que está em crescente processo de fluidez.
Diante dessas características descritas acima, surge novos tipos de espaço, sugeridos por Bauman, como as comunidades, que são os espaços compartilhados por sujeitos que possuem os mesmo interesses e opiniões. Nessa área, o respeito aos espaços e as idéias dos outros é fundamental e imprescindível.
Os espaços urbanos são os considerados lugares comuns de uma sociedade. Dentro desses espaços públicos há áreas que estimulam o contato, a troca e a interação entre os sujeitos, promovendo a civilização; e há áreas que estimulam o consumo e a ação, independente de estimular a interação.
O espaço que estimula o consumo é chamado de não-lugares, pois geralmente são espaços que não possuem relações com o cotidiano do sujeito, são apenas espaços normalmente destinados para o consumo.
“os não-lugares aceitam a inevitabilidade de uma adiada passagem, às vezes muito longa, de estranhos, e fazem o que podem para que sua presença seja "meramente física" e socialmente pouco diferente, e preferivelmente indistinguível da ausência, para cancelar, nivelar ou zerar, esvaziar as idiossincráticas subjetividades de seus "passantes'” (Bauman, 2001, p.119).
Outro estilo de espaço são os chamados de espaços vazios. Esses são os espaços que não possui significado para o sujeito. Normalmente são os espaços não vistos ou não conhecidos, daí não possuir nenhum significado. Segundo Santaella (2007, p. 177), os mapas internos de um determinado lugar “são compostos de espaços cheios, os lugares que freqüentamos, e vazios, os lugares que ignoramos.”
Enfim, o tempo faz parte da modernidade liquida. Ele é volátil, manipulável e fluido, principalmente pela sua dinamicidade, tornando-se uma ferramenta voltada principalmente para vencer a resistência do espaço. Já o espaço, em tempos de liquefação, é desterritorializado e sem fronteiras; ele não impõe mais limites à ação e seus efeitos.
“aplicado à relação tempo-espaço, isso significa que, como todas as partes do espaço podem ser atingidas no mesmo período de tempo (isto é, em "tempo nenhum"), nenhuma parte do espaço é privilegiada, nenhuma tem um "valor especial" Se todas as partes do espaço podem ser alcançadas a qualquer momento, não há razão para alcançar qualquer uma delas num dado momento e nem tampouco razão para se preocupar em garantir o direito de acesso a qualquer uma delas.” (Bauman, 2001, p. 137)
Referências bibliográficas
AMORA, Soares. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Saraiva, 1999
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Tradução: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001
SANTAELLA, Lucia. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, 2007